Apresentamos o Prefacio “El primer Papa latinoamericano”.
escrito por Jose Oscar Beozzo, na edição da Itália, do livro de STRAZZARI,
Francesco, In Argentina per conoscere Papa Bergoglio. Bologna: EDB, 2013, pp. 5-27 e em sua edição em espanhol, “El primer Papa latinoamericano”, Madrid: Editorial Verbo Divino, 2014. As Paulinas estão traduzindo o livro para o português. Este Prefacio trata do significado da eleição de um papa latino-americano. O Padre Jose Oscar Beozzo é fundador e Diretor do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular, CESEP. Acaba de ser convidado, pelo professor Giovanni Ancona, decano da Faculdade de Teologia, da Pontifícia Universitá Urbaniana de Roma, para pronunciar conferencia no Colóquio Internacional “A fé hoje entre respostas novas e a antiga sabedoria” Pediram-lhe para falar sobre O êxito das Teologias da Libertação e as teologias americanas contemporâneas. Dia 7 de abril de 2014.
por Padre José Oscar Beozzo
Jorge Bergoglio é o primeiro papa na história da Igreja nascido nas Américas.
O que isto pode preconizar para seu pontificado? É difícil prenunciá-lo, mas se podem individuar práticas, experiências, dores e esperanças inscritas no DNA da Igreja na América Latina e que fazem parte da bagagem existencial e eclesial do Papa Francisco.
O continente, com presença humana há 40.000 anos e povoado por mais de dois mil e duzentos diferentes povos indígenas, com suas línguas, culturas e religiões, recebeu inicialmente, num processo de choque e violência militar, política, cultural e religiosa, um catolicismo ibérico forjado na luta contra os mouros. Trazia a marca tanto da recém-unificada Espanha, com a chegada ao Caribe, em 1492, de Cristovão Colombo, quanto o selo português, com a passagem, em 1500, pelo Brasil, de Pedro Álvares Cabral, em seu a caminho para as Índias. Mais tarde católicos e huguenotes franceses, anglicanos ingleses, reformados holandeses, luteranos dinamarqueses imprimiram diferentes vertentes ao cristianismo no Caribe, na costa atlântica da América central e do Sul e na América do Norte. A vinda de imigrantes de nações protestantes ou ortodoxas mais o trabalho missionário das igrejas protestantes, a partir do século XIX e a onda pentecostal do século XX diversificaram os rostos do cristianismo latino-americano ou levaram-no a conviver também com outras religiões trazidas por imigrantes da Índia, China, Japão ou Indonésia. Assiste-se hoje ao ressurgimento das antigas religiões indígenas e afro-americanas no seio de populações formalmente batizadas na Igreja católica.
Que traços dessa sua origem latino-americana estará o novo Papa levando para Roma, no seu ofício de Bispo daquela diocese e na sua tarefa de presidir na caridade a comunhão das Igrejas?
BERGOGLIO, UM FILHO DE IMIGRANTES
Bergoglio é parte, como filho de imigrantes italianos na Argentina, de determinada porção da América Latina que historiadores chamam de Euro-américa, em contraposição a uma Indo-América e a uma Afro-américa.
Segundo o antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro, esta Euro-américa é formada predominantemente por “povos transplantados” da Europa para a América, na onda da grande imigração entre 1840 e 1914[1]. Ao norte, as correntes imigratórias se dirigiram para os Estados Unidos e o Canadá. Ao sul, a Argentina foi o destino privilegiado, junto com o seu vizinho Uruguai e algumas regiões do Chile e do sul do Brasil, dessa avalanche humana de irlandeses, italianos, espanhóis, alemães, portugueses, russos, ucranianos, poloneses e de quantos buscaram na imigração remédio à sua pobreza e resposta aos seus sonhos de vida melhor e mais digna.
Argentina recebeu, nesse curto período de tempo, mais de 6 milhões de imigrantes europeus, mas também muitos árabes e turcos provindos do antigo império otomano ou ainda judeus da Europa ocidental e oriental.
Bergoglio traz de volta para a Europa a sua herança italiana estampada no nome, no sangue e na sua identidade cultural. Esta foi certamente transfigurada pelo seu nascimento neste continente americano. O idioma de seus pais italianos foi enriquecido pelo castelhano, a koiné de tantos povos, raças e línguas da Argentina dos imigrantes. Nos dias de hoje, o castelhano tornou-se a língua mais falada no seio da comunidade católica mundial, pois é o idioma nacional de 19 países da América Latina e do Caribe e de cerca da metade dos católicos nos Estados Unidos. Na Europa, é falada na Espanha; na África, no arquipélago das Canárias, em Ceuta e Melilla na costa norte-africana e no antigo Saara espanhol, hoje parte de Marrocos. Na Ásia, deixou sua marca nas Filipinas, em especial com o catolicismo ali implantado, que faz daquele arquipélago o único país de maioria cristã em todo continente asiático.
Bergoglio não carrega consigo, a não ser de forma tênue, a forte identidade indo-americana predominante em países como México e Guatemala, Bolívia, Equador e Peru, cujas populações conservam idiomas e costumes indígenas que deixaram marca indelével na sua composição racial, nos seus traços fisionômicos, na sua arte, artesanato, culinária e religiosidade. A Argentina dos imigrantes europeus sempre teve dificuldades em reconhecer suas raízes indígenas, ainda fortes e visíveis nas províncias do norte; de incorporar a herança dos ainda numerosos antepassados indígenas e de fugir ao dilema e à contraposição de Alberdi e Sarmiento entre civilização (Europa) e barbárie (indígenas da América)[2].
Tampouco é Bergoglio representativo, como argentino, desta Afro-américa, construída com o braço e o sangue das escravas e escravos africanos. A África teceu o corpo e a alma do Caribe e de muitas regiões do Brasil, que conta hoje com quase cem milhões de afro-descendentes[3]. África é também presença incontornável na costa atlântica da Venezuela, Colômbia e dos países centro-americanos e na costa do Pacífico no Peru, no Chocó colombiano, em Esmeraldas no Equador.
Enquanto as lavouras de cana de açúcar do Caribe receberam metade dos cerca de 12 milhões de escravos africanos trazidos para a América e Brasil importou quase 40% deste total para as lavouras de cana, de algodão, fumo e café, para as minas de ouro e diamantes, lides domésticas, transporte, construção e serviços urbanos, a Argentina, junto com Chile, Bolívia e Uruguai, acolheu menos de 1% desses escravos, por conta de suas terras temperadas, inadequadas para os plantios tropicais.
Mas o bispo Bergoglio, em suas andanças pastorais pelas “villas miseria” da periferia de Buenos Aires topou o tempo todo com esse povo dos pobres vindo desta América profunda dos migrantes indígenas Toba do norte argentino ou Mapuche do sul; dos imigrantes mais recentes, Quéchua e Aymara, do altiplano andino boliviano e peruano ou Guarani do Paraguai. Acercou-se também dos “cabecitas negras” descendentes dos antigos escravos das zonas açucareiras dos vales quentes do norte argentino ou dos trabalhadores do porto de Buenos Aires, durante a colônia, entre os quais florescem hoje os cultos afro-americanos. Ainda que dizimados os homens negros nas guerras da independência, nas guerras de Rosas ou da Tríplice Aliança no século XIX, as mulheres permaneceram e continuaram transmitindo o sangue e a cultura afro aos seus descendentes. Indígenas e africanos são acompanhados pela vasta gama de todas as mestiçagens e cores mais escuras que povoam o mundo popular argentino e sua religiosidade, em contraste com a tez branca e o catolicismo romanizado de suas elites e de suas classes médias de origem europeia.
O que leva Bergoglio para Roma como membro da Igreja latino-americana, com sua experiência pastoral e sua espiritualidade própria?
APARECIDA, UM MARCO NA VIDA DE BERGOGLIO
No dia 18 de março deste ano, o Papa Francisco, ao término da primeira audiência a um chefe de Estado, a presidente de seu país, Cristina Fernandes de Kirchner, depois de abraçá-la e beijá-la, entregou-lhe, como lembrança singela, o Documento de Aparecida. Repetiu o gesto com a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, ofertando-lhe as mesmas conclusões da V Conferência geral do episcopado latino-americano, realizada no Santuário de Aparecida, no Brasil, de 13 a 31 de maio de 2007.
Francisco fez questão de incluir o Santuário de Aparecida SP, no roteiro de sua viagem ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, no próximo mês de julho.
Qual o laço que une o novo Papa a Aparecida e à V Conferência?
Promovido a cardeal em 2001, viveu Bergoglio intensa experiência eclesial com o evento da morte e os funerais de João Paulo II, seguidos pela Sé vacante e o conclave para a escolha de um novo bispo de Roma, na primaveral de 2005. As congregações gerais que precederam o conclave deram-lhe um quadro vívido e certamente dramático, sob alguns aspectos, da situação da Igreja nos cinco continentes. Diz-se que seu nome foi o segundo mais sufragado nos escrutínios finais que elegeram o então Cardeal Joseph Ratzinger, como novo bispo de Roma, com o nome de Bento XVI, a 19 de abril daquele ano.
Parece, entretanto, que a experiência eclesial mais marcante foi por ele vivida dois anos depois no seio de sua Igreja latino-americana, durante as três semanas da V Conferência Geral do episcopado Latino-americano, celebrada em Aparecida SP, no Brasil, em maio de 2007. Esta experiência levou-o a abraçar e apresentar Aparecida como algo muito seu, além de referência e possível norte para o seu pontificado. Sinal da importância que Francisco atribui a esta Conferência foi a entrega, como assinalamos acima, do seu Documento às presidentes de Argentina e do Brasil, na semana mesma de sua eleição.
De fato, Bergoglio, como presidente da Conferência Episcopal argentina esteve muito envolvido na preparação da Conferência devido ao método adotado pelo CELAM. Este associou os 22 presidentes das conferências episcopais da América Latina e do Caribe à direção do CELAM na tomada de decisões relativa aos encaminhamentos mais importantes para Aparecida.
No segundo dia da Conferência de Aparecida, dia 15 de maio de 2007, falaram todos os presidentes dessas 22 Conferências episcopais.
Bergoglio tomando a palavra pela Argentina disse que se adotou em seu país o lema de se Navegar mar adentro.
“Sugerió que la propuesta final tenga tres géneros: un documento medular que ofrezca un perfil del discípulo misionero hoy en América Latina, un mensaje final a los pueblos y la propuesta de varios temas pastorales para ser trabajados posteriormente con subsidios. Dijo que la pastoral es un camino de conversión eclesial, misionera e inculturada, para llegar a los bautizados alejados y cercanos.
Luego mencionó tres macro-desafíos consensuados en una reunión previa: la ruptura en la transmisión de la fe, la inequidad escandalosa que divide a la población en “ciudadanos” y en “sobrantes y descarte”, y finalmente la crisis de los vínculos familiares y sociales”[4].
Neste mesmo dia, Bergoglio foi eleito pelo plenário como presidente da Comissão de Redação do documento de Aparecida, junto com sete outros cardeais ou bispos[5]. Do trabalho em comum durante cada dia, mas prolongado por muitas noites e mesmo madrugadas adentro, criaram-se fortes laços de companheirismo e afeto entre os integrantes desta comissão de redação. Um deles, o Cardeal Cláudio Hummes, então Prefeito para a Congregação do Clero, esteve ao lado de Bergoglio, por insistência sua, quando foi anunciado à multidão apinhada na Praça São Pedro, o Habemus Papam.
Confessou o Papa que fora o mesmo Hummes, franciscano, cardeal emérito de São Paulo quem, abraçando-o, logo depois de sua escolha, havia-lhe instado: “Não se esqueça dos pobres”! Ocorreu-lhe, nesse momento, assumir o nome de Francisco, como sinal de seu pontificado[6].
Deste mesmo grupo da comissão de redação de Aparecida, Bergoglio escolheu o cardeal de Tegucigalpa, Oscar Rodriguez Maradiaga, ex-presidente do CELAM, para presidir a comissão por ele constituída para auxiliá-lo de forma colegiada na definição dos rumos do seu pastoreio romano e universal. Para esta mesma comissão, escolheu também o então presidente do CELAM e um dos três presidentes da Conferência de Aparecida, o cardeal Francisco Javier Errázuriz, arcebispo de Santiago do Chile, onde havia cursado seus estudos teológicos[7].
Em Aparecida, por sugestão de Bergoglio, estava presente como observador, o rabino Claudio Epelman, diretor executivo do Congresso Judaico Latino-americano, membro da comunidade hebraica da Argentina. Vale lembrar que Buenos Aires conta com a maior comunidade de judeus no mundo todo, depois dos que vivem no Estado de Israel e na cidade de Nova Iorque. Bergoglio leva para Roma suas intensas relações com esta comunidade. As reflexões surgidas dos muitos encontros do ainda Cardeal Jorge Bergoglio com Abraham Skorka, reitor do Seminário Rabínico de Buenos Aires, foram publicadas no livro Sobre o céu e a terra[8].
Da missa que Bergoglio celebrou na Basílica de Aparecida, no dia 16 de maio, recolhemos breve registro: “Esta mañana presidió la Eucaristía el Card. Bergoglio con una agradable homilía sobre el Espíritu Santo, donde invitaba a evitar una Iglesia autossuficiente y autoreferencial, y remarcaba que la Iglesia debe ser capaz de llegar a todas las periferias humanas”[9].
De Aparecida, cujo tema geral foi Discípulos e missionários de Jesus Cristo para que nEle nossos povos tenham vida, podem ser destacadas algumas preocupações de fundo, que estarão presentes na mente e no coração do Papa Francisco:
– Concretizar a animação bíblica de toda a pastoral;
– renovar todas as estruturas eclesiais para que sejam essencialmente missionárias;
– reafirmar a opção pelos pobres e excluídos;
– crescer num estilo de proximidade cordial com o povo;
– estimular o compromisso de todos com a vida pública[10].
Se nos interrogarmos, porém, para além de Aparecida, o que poderia ser levado por Bergoglio da caminhada secular da Igreja latino-americana, em especial de sua experiência a partir da II Conferência geral do Episcopado latino-americano em Medellín (1968), que muitos consideram como a ata de nascimento da Igreja latino-americana, com um rosto e um projeto próprios?
Elencamos abaixo alguns traços desta Igreja.
AMÉRICA LATINA: UMA IGREJA DE MÁRTIRES
Para Roma, seu maior tesouro é conservar e venerar o testemunho e a memória do martírio de Pedro e Paulo e manter viva em sua anáfora eucarística, o Canon Romano ou Prece Eucarística I, como é hoje conhecida, a solene invocação de Pedro e Paulo, junto à de outros de seus mártires. O martírio dos dois apóstolos e dos que seguiram seus passos, é referência primeira e selo de uma fé professada com destemor. Assim, no Canon Romano, depois de Pedro e Paulo e dos demais apóstolos, são relembrados, Lino, Cleto, Clemente, Sixto, Cornélio, Cipriano, o diácono Lourenço, Crisógono, João e Paulo, Cosme e Damião e também, num segundo momento, suas mártires Felicidade e Perpétua, Águeda e Luzia, Inês, Cecília, Anastácia.
Bergoglio vai poder responder com conhecimento de causa e em nome das Igrejas todas da América Latina àquela interpelação do ancião do Apocalipse: “Esses que têm vestes brancas, quem são e de onde vêm? Respondi: Tu sabes, Senhor. Ele me disse: Esses são os que saíram da grande tribulação, lavaram e alvejaram suas vestes no sangue do Cordeiro… E Deus enxugará as lágrimas dos seus olhos” (Ap 7, 13-14, 17b).
A grande tribulação na América Latina em sua história foi o martírio relâmpago dos povos indígenas nas guerras de conquista e o seu lento definhar nos trabalhos forçados das encomiendas nas fazendas, da mita nas minas de prata e ouro ou nos obrajes das cidades. Tribulação semelhante ou pior se abateu sobre os escravos negros trazidos à força da África e vendidos como mercadorias, num martírio cotidiano e transmitido perpetuamente pelas mães a seus filhos e filhas[11]. Mais recentemente, foram as mais de três décadas de implacáveis ditaduras militares, nas quais, em nome de Deus, se assassinaram milhares de pessoas, que, por sua fé e pela causa da justiça, defenderam pobres e pequenos e denunciaram profeticamente uma ordem injusta que queria se justificar invocando a defesa da civilização ocidental e cristã[12].
A Igreja latino-americana sofreu muito e ainda sofre, com a incompreensão e obstinada resistência romana em se reconhecer oficialmente seus mártires, cujo sangue foi derramado pela causa da justiça, na defesa da vida do “pobre, do órfão, da viúva, do estrangeiro”, chamados que foram a identificar e defender o rosto sofredor do Cristo naqueles seus irmãos e irmãs perseguidos.
Puebla os evoca de maneira grave e eloquente, depois de denunciar a situação de pecado social estrutural vigente no continente:
Comprovamos, pois, como o mais devastador e humilhante flagelo, a situação de pobreza desumana em que vivem milhões de latino-americanos e que se exprime, por exemplo, em mortalidade infantil, em falta de moradia adequada, em problemas de saúde, salários de fome, desemprego e subemprego, desnutrição, instabilidade no trabalho, migrações maciças, forçadas e sem proteção (P 29).
Acrescenta Puebla, fazendo o enlace entre essa injustiça estrutural, os sofrimentos e a paixão do próprio Cristo e os rostos concretos que historicamente a reviveram e encarnaram:
Esta situação de extrema pobreza generalizada adquire, na vida real, feições concretíssimas, nas quais deveríamos reconhecer as feições sofredoras de Cristo, o Senhor que nos questiona e interpela (P 31):
– feições de indígenas e, com frequência, também de afro-americanos, que, vivendo segregados e em situações desumanas, podem ser considerados os mais pobres dentre os pobres (P 34);
– feições de camponeses, que, como grupo social, vivem relegados em quase todo o nosso continente, sem terra, em situação de dependência interna e externa, submetidos a sistemas de comércio que os enganam e os exploram (P 35);
– feições de operários, com frequência, mal remunerados, que têm dificuldade de se organizar e defender os próprios direitos (P 36);
– feições de subempregados e desempregados, despedidos pelas duras exigências das crises econômicas e, muitas vezes, de modelos desenvolvimentistas que submetem os trabalhadores e suas famílias a frios cálculos econômicos (P 37);
– feições de marginalizados e favelados das nossas cidades, sofrendo o duplo impacto da carência dos bens materiais e da ostentação da riqueza de outros setores sociais (P 38).
Puebla conclui com os rostos de crianças golpeadas pela pobreza e abandonadas pelas cidades (P 32), de jovens desorientados e frustrados (P 33) e de anciãos, cada vez mais numerosos e colocados à margem da sociedade (P 39).
A V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano reunida em Aparecida em 2007 reconheceu solenemente este caráter martirial da Igreja latino-americana em várias passagens do seu documento.
Aponta, em primeiro lugar, o martírio como consequência de suas opções pastorais de colocar-se ao lado dos pobres em sua luta pela justiça:
[…] Seu empenho [da Igreja] a favor dos mais pobres e sua luta pela dignidade de cada ser humano têm ocasionado, em muitos casos, a perseguição e inclusive a morte de alguns de seus membros, os quais consideramos testemunhas da fé. Queremos recordar o testemunho valente de nossos santos e santas, e aqueles que, inclusive sem terem sido canonizados, viveram com radicalidade o Evangelho e ofereceram sua vida por Cristo, pela Igreja e por seu povo (AP 98).
O discípulo que se torna parecido ao mestre, identificando-se com Cristo, corre o mesmo risco de partilhar o seu destino:
Estimula-nos o testemunho de tantos missionários e mártires de ontem e de hoje em nossos povos que têm chegado a compartilhar a cruz de Cristo até a entrega da própria vida (AP 140).
Retoma o tema ao falar da vida consagrada:
É chamada a ser uma vida missionária, apaixonada pelo anúncio de Jesus-verdade do Pai, por isso mesmo radicalmente profética, capaz de mostrar, à luz de Cristo, as sombras do mundo atual e os caminhos uma vida nova, para o que se requer um profetismo que aspire até à entrega da vida em continuidade com a tradição de santidade e martírio de tantas e tantos consagrados, ao longo da história do continente (AP 220).
A evocação dos mártires reaparece mais à frente:
Nossas comunidades levam o selo dos apóstolos e, além disso, reconhecem o testemunho cristão de tantos homens e mulheres que espalharam em nossa geografia as sementes do Evangelho, vivendo valentemente sua fé, inclusive derramando seu sangue como mártires. Seu exemplo de vida e santidade constitui um presente precioso para o caminho cristão dos latino-americanos e, simultaneamente, um estímulo para imitar suas virtudes nas novas expressões culturais da história. Com a paixão de seu amor a Jesus Cristo, foram membros ativos e missionários em sua comunidade eclesial. Com valentia, perseveraram na promoção dos direitos das pessoas, foram perspicazes no discernimento crítico da realidade à luz do ensino social da Igreja e críveis pelo testemunho coerente de suas vidas (AP 275).
No capítulo VIII do documento de Aparecida, “Reino de Deus e Promoção da Dignidade Humana” são alinhados vários sinais da presença de Deus, dentre os quais se sobressai o martírio de tantos cristãos do continente:
São sinais evidentes da presença de Deus: a vivência pessoal e comunitária das bem-aventuranças, a evangelização dos pobres, o conhecimento e cumprimento da vontade do Pai, o martírio pela fé, o acesso de todos aos bens da criação, o perdão mútuo, sincero e fraterno, aceitando e respeitando a riqueza da pluralidade e a luta para não sucumbir à tentação e não ser escravos do mal (AP 383).
Numa declaração programática da Igreja com a qual sonha, mas também se compromete a V Conferência, está incluída sua disposição a dar testemunho, ainda que à custa do martírio:
Comprometemo-nos a trabalhar para que a nossa Igreja latino-americana e Caribenha continue sendo, com maior afinco, companheira de caminho de nossos irmãos mais pobres, inclusive até o martírio. Hoje, queremos ratificar e potencializar a opção preferencial pelos pobres feita nas Conferências anteriores[13]. Que seja preferencial implica que deva atravessar todas as nossas estruturas e prioridades pastorais. A Igreja latino-americana é chamada a ser sacramento de amor, solidariedade e justiça entre nossos povos (AP 396).
Finalmente é resgatada experiência martirial de muitas das comunidades eclesiais de base no continente:
En la experiencia eclesial de América Latina y de El Caribe, las Comunidades Eclesiales de Base han sido con frecuencia verdaderas escuelas que han ayudado a formar, discípulos y misioneros del Señor, como testimonia la entrega generosa, hasta derramar su sangre, de tantos miembros suyos. Ellas recogen la experiencia de las primeras comunidades, como están descritas en los Hechos de los Apóstoles (cf. Hch 2, 42-47). Medellín reconoció en ellas una célula inicial de estructuración eclesial y foco de evangelización[14]. Arraigadas en el corazón del mundo, son espacios privilegiados para la vivencia comunitaria de la fe, manantiales de fraternidad y de solidaridad, alternativa a la sociedad actual fundada en el egoísmo y en la competencia despiadada (AP 178)[15].
A insistência da V Conferência de Aparecida na experiência do martírio tem muito a ver, como dissemos acima, com a resistência em se reconhecer oficialmente este testemunho de entrega total da vida, dom precioso de Deus na experiência eclesial de tantas comunidades do continente.
Bergoglio, uma vez Papa, apressou-se, num gesto de profundo simbolismo para todo o continente, a destravar o processo de beatificação do arcebispo de El Salvador, o mártir Mons. Oscar Arnulfo Romero, que fora formalmente aberto pela Arquidiocese de El Salvador em 1990, e que, uma vez encaminhado a Roma em 1996, encontrava-se congelado desde 2007 nos escaninhos da Congregação das Causas dos Santos. O anúncio foi dado pelo arcebispo Vincenzo Paglia, postulador da causa de Mons. Romero, no domingo 21 de abril, ao final da sua homilia dedicada à memória de Antonio “Tonino” Bello, bispo de Molfetta, no 20º aniversário de sua morte. Bello é conhecido como um dos principais “bispos da paz” na Itália. Paglia anunciou: Hoje, no dia da morte de Don Tonino, a causa da beatificação de Dom Romero foi desbloqueada![16]
Bem antes deste feliz anúncio, por todo o continente e mesmo noutros quadrantes, surgiram capelas, santuários e até mesmo paróquias sob a invocação do São Oscar Romero, com festividade no dia 24 de março, dia do seu martírio. Segue-se, assim, com Romero e com tantos mártires do continente, delegados e delegadas da Palavra, religiosas, sacerdotes e bispos, a antiga e venerável tradição da Igreja de que mártires estavam já canonizados pela entrega corajosa de suas vidas pela fé e pela justiça.
Na Argentina, cuja hierarquia em sua grande maioria apoiou a ditadura militar que deixou mais de 30.000 mortos e desaparecidos, um punhado de bispos[17], entre os quais Enrique Angelelli[18] de la Rioja, no norte argentino, denunciou vigorosamente o regime, seus assassinatos, torturas e atropelos aos direitos humanos. Como jovem bispo, Angelelli foi padre conciliar participando da 1ª., 3ª. e 4ª. sessões do Vaticano II. Somou-se ao grupo da “Igreja dos pobres” e foi um dos 40 bispos que no dia 16 de novembro de 1965, após a concelebração da missa nas Catacumbas de Santa Domitila, assinou o Pacto das Catacumbas, sinalizando seu evangélico compromisso com os pobres e com a causa da justiça, o que acabou custando-lhe a vida.
Contrariando a versão dos militares de que sua morte fora simplesmente um acidente de carro e a atitude reticente do episcopado, o povo sempre considerou aquele um acidente provocado e Angelelli, um mártir. No dia 4 de agosto de 2006, ao cumprir-se 30 anos de sua morte, o então presidente da Conferência Episcopal Argentina, o cardeal Bergoglio de Buenos Aires declarou em sua homília na Catedral de La Rioja que Enrique Angelelli “recebia pedradas por pregar o evangelho e, por ele, derramou seu sangue”!
AMÉRICA LATINA ABRAÇA A HERANÇA DO VATICANO II
Do Concílio Vaticano II abraçado com entusiasmo e levado à prática de maneira fiel, mas também criativa e inovadora, queremos destacar algumas contribuições da Igreja na América Latina, que se cristalizaram na II Conferência Geral do Episcopado Latino-americano em Medellín na Colômbia, em 1968 de 26 de agosto a 06 de setembro.
A Conferência de Medellín é considerada, a justo título, a ata de nascimento da Igreja latino-americana, com rosto próprio.
Para a consciência eclesial latino-americana, Medellín é uma experiência fundante. O pedido de uma II Conferência geral do episcopado latino-americano apresentado a Paulo VI em setembro de 1965, a poucos dias da abertura do quarto e último período do Concílio, vinha acompanhado de um duplo anelo: buscar caminhos para a recepção do concílio como igreja continental e preencher determinadas lacunas do Vaticano II[19]. No discurso de 23 de novembro de 1965, a cerca de 450 bispos latino-americanos, por ocasião do décimo aniversário do CELAM, Paulo VI acenou, por primeira vez, publicamente, com a realização da II Conferência, como meio de estabelecer um plano de pastoral para a aplicação do Concílio no continente: “Diremo anzi di più: sotto certi aspectti e per certe materie potrà anche essere utile ed opportuno studiare um piano a livello continentale attraverso il vostro Consiglio Episcopale, nella sua funzione di organo di contatto e di collaborazione tra le Conferenze Episcopali dell’America Latina”.[20]
DE MEDELLÍN A APARECIDA, A OPÇÃO PREFERENCIAL PELOS POBRES
Entre as lacunas do Vaticano II, estiveram a dificuldade em se colocar no centro de suas preocupações, mesmo na Gaudium et Spes, a situação de miséria e pobreza das grandes maiorias do continente americano, mas também da África e Ásia, e seu anelo por romper com esta situação. Outras lacunas foram a escassa atenção à juventude e à catequese, temas cruciais para um continente constituído majoritariamente por crianças e jovens.
Esses temas estiveram à margem do Vaticano II, mas constituem o fulcro de dois dos dezesseis documentos de Medellín, o de Juventude (Med 5) e o da Catequese ( Med 8).
Igreja dos pobres, outro horizonte pouco assumido no Concílio, salvo em raras passagens (LG 8; GS 1, 63, 81, 88, 90; CD 13, 30) torna-se o coração do documento sobre a igreja em Medellín: A pobreza na Igreja (Med 14) e o objetivo primeiro de sua ação, com a Pastoral Popular (Med 6) .
Escutar o grito dos pobres, como interpelação evangélica, comprometer-se com eles e agir, para transformar o mundo e a igreja e, foi uma das inspirações da Assembleia de Medellín:
“O episcopado latino-americano não pode ficar indiferente perante as tremendas injustiças sociais existentes na América Latina que mantêm a maioria de nossos povos numa dolorosa pobreza e eu, em muitíssimos casos, chega a ser miséria inumana” (Med 14, 1).
“Não basta refletir, obter maior clareza e falar. É preciso agir. Esta não deixou de ser a hora da palavra, mas tornou-se, com dramática urgência, a hora da ação”[21].
A leitura da realidade em Medellín está marcada pela teoria da dependência que tentava explicar o subdesenvolvimento da maioria dos povos pelo desenvolvimento desigual e assimétrico entre norte e sul do mundo e por novas formas de colonialismo internacional agravadas por colonialismos internos. Reflete igualmente o impacto da tomada de consciência, por parte os setores populares, da secular opressão econômica e dominação política responsáveis pela pobreza e miséria das maiorias. Reflete ademais o despertar dos movimentos populares no campo e nas cidades e a decisão da Igreja de somar-se a eles em suas lutas e reivindicações.
Em Medellín, a Igreja assume como tarefa pastoral:
“Alentar e favorecer todos os esforços do povo para criar e desenvolver suas próprias organizações de base, pela reivindicação e consolidação dos seus direitos e busca de uma verdadeira justiça” (MED 2, 27) e acrescenta: “A pobreza da Igreja e de seus membros na América Latina deve ser sinal e compromisso. Sinal do valor inestimável do pobre aos olhos de Deus; compromisso de solidariedade com os que sofrem” (Med 14, 7).
Puebla consolida essa perspectiva e faz da opção preferencial pelos pobres, o horizonte prioritário de sua ação pastoral: “A evangelição dos pobres foi para Jesus um dos sinais messiânicos e será também para nós sinal de autenticidade evangélica” (P 1130).
Por outro lado, Puebla desvela o potencial evangelizador dos pobres:
“O compromisso com os pobres e oprimidos e o surgimento das comunidades eclesiais de base ajudaram a Igreja a descobrir o potencial evangelizador dos pobres, enquanto estes a interpelam constantemente, chamando-a à conversão, e porque muitos deles realizam em sua vida os valores evangélicos de solidariedade, serviço, simplicidade e disponibilidade para acolher o dom de Deus” (P 1147).
Se Medellín via a raiz das desigualdades e da opressão na exploração do trabalho e nos mecanismos injustos do comércio internacional, essa leitura sofre o impacto de importantes mudanças. Aparecida identifica no atual modelo de globalização a causa principal das injustiças e das novas desigualdades: “[…] Na globalização, a dinâmica do mercado absolutiza com facilidade a eficácia e a produtividade como valores reguladores de todas as relações humanas. Esse caráter peculiar faz da globalização um processo promotor de iniquidades e injustiças múltiplas” (AP 67).
Prossegue o documento de Aparecida:
“[…] Uma globalização sem solidariedade afeta negativamente os setores mais pobres. Já não se trata simplesmente do fenômeno da exploração e opressão, mas de algo novo: a exclusão social. Com ela a pertença à sociedade na qual se vive, fica afetada na raiz, pois já não [se] está abaixo, na periferia ou sem poder, mas [se] está fora. Os excluídos não são somente ‘explorados’, mas ‘supérfluos’ e ‘descartáveis’ (AP 69).
Por fim, Aparecida enlaça de maneira clara a opção preferencial pelos pobres com a fé cristológica, dando-lhe um firme enraizamento teológico:
“Nossa fé proclama que ‘Jesus Cristo é o rosto humano de Deus e o rosto divino do homem’ (EAm 67). Por isso, ‘a opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para nos enriquecer com sua pobreza. Essa opção nasce de nossa fé em Jesus Cristo, o Deus feito homem, que se fez nosso irmão (cfr. Hb 2, 11-12)”.
Ao assumir o nome de Francisco, Bergoglio abraçou como raiz e fundamento do seu pontificado essa inarredável opção pelos pobres que marcou o caminhar da Igreja latino-americana desde Medellín.
MEDELLÍN: EXERCÍCIO DELIBERANTE DA COLEGIALIDADE EPISCOPAL
Medellín traz ainda desdobramentos eclesiológicos únicos para dimensões fundamentais do Vaticano II.
Trata-se, no imediato pós-concílio, da única recepção conciliar empreendida não apenas a nível de Igrejas particulares, no âmbito de uma diocese ou região, ou ainda de Igrejas nacionais, impulsada pela respectiva conferência episcopal, mas de uma recepção continental. Medellín, de fato, modelou a recepção do Vaticano II para todo o continente latino-americano e caribenho.
A África que se empenhou por obter de Roma a permissão para um concílio pan-africano destinado a encaminhar a recepção do Vaticano II, à luz das exigências e singularidades daquele continente, só conseguiu reunir-se por primeira vez, numa Assembleia extraordinária do Sínodo, aberta em Roma, no segundo domingo depois da Páscoa em 1995, trinta anos depois do encerramento do Concílio[22].
Dentre os desdobramentos da recém-aprovada doutrina da colegialidade episcopal (LG 22-23), esperavam os padres conciliares que surgisse alguma forma institucionalizada de governo mais colegial da Igreja. Alguns sonhavam com uma espécie de senado constituído por presidentes das Conferências que pudesse ser associado ao Papa nas suas tarefas e responsabilidades relativas ao conjunto da Igreja.
A fórmula anunciada por Paulo VI na abertura da quarta e última sessão conciliar foi a de um Sínodo dos Bispos, de caráter apenas consultivo, ou seja, uma forma apequenada e restrita daquela solicitude pela Igreja universal (LG 23) e do exercício daquela suprema autoridade em relação ao conjunto da Igreja de que goza o colégio episcopal, em comunhão entre si e com Pedro, no vínculo da unidade, caridade e paz (LG 22).
Medellín e as sucessivas conferências gerais do episcopado latino-americano de Puebla, Santo Domingo e Aparecida, revelaram-se um exercício mais pleno da colegialidade episcopal de caráter deliberativo e não apenas consultivo; exercício mais próximo de um Concílio do que de um Sínodo.
Essas conferências deram lugar a uma pastoral e a um magistério próprios reconhecidos como contribuição original para a caminhada da Igreja latino-americana e para o conjunto da Igreja. Infelizmente, não se conseguiu esse desdobramento mais rico e assertivo da colegialidade episcopal nos demais continentes, que pudesse contrabalançar a tendência a um nefasto retorno ao centralismo sufocante e paralisante da Cúria romana e a um exercício do primado pontifício descolado da colegialidade episcopal.
POVO DE DEUS: POVO DOS POBRES E AS COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE
Outro desdobramento eclesial de fundamental importância foi a tradução do rico e fundamental conceito de Povo de Deus, pedra basilar da Constituição Lumen Gentium, numa fórmula original que associou o protagonismo de todos os batizados e batizados na vida da Igreja, com o povo dos pobres, como novo sujeito eclesial no seio das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).
As CEBs já são propostas como tradução da nova eclesiologia da Lumen Gentium no Plano de Pastoral de Conjunto da Igreja do Brasil, aprovado como roteiro de recepção do Vaticano II, para todo o país no apagar das luzes do Concílio, em novembro de 1965.
Recebem uma formulação lapidar em Medellín que já recolhe os traços característicos desta verdadeira revolução eclesial e propõe as CEBs como caminho privilegiado para a recepção da intuição da Igreja como povo de Deus proclamada na Lumen Gentium:
“Assim, a comunidade cristã de base é o primeiro e fundamental núcleo eclesial, que deve, em seu próprio nível, responsabilizar-se pela riqueza e expansão da fé, como também pelo culto que é sua expressão. É ela, portanto, célula inicial de estruturação eclesial e foco de evangelização e atualmente fator primordial de promoção humana e desenvolvimento” (Med 16, 10).
LEITURA POPULAR DA BÍBLIA
Outro traço da Igreja latino-americana que o Papa Francisco leva para Roma é a experiência continental da leitura popular da Bíblia.
Não há em Medellín um documento específico que retome a Constituição dogmática Dei Verbum do Concílio, mas a PALAVRA DE DEUS, devolvida ao povo nos círculos bíblicos, nas comunidades eclesiais de base e no movimento da leitura popular da Bíblia esteve no coração da revolução provocada por Medellín.
Para tanto, contribuiu, e muito, a generosa iniciativa da Comunidade de Taizé na França que, após o Concílio, doou às igrejas da América Latina, mormente à Católica, hum milhão de exemplares do Novo Testamento em castelhano e outro milhão em português, para serem distribuídos gratuitamente às comunidades mais pobres do continente tanto católicas como evangélicas. Mais de 90% desses exemplares do Novo Testamento foram entregues a comunidades católicas, onde milhares de pessoas tiveram por primeira vez em suas mãos a Palavra de Deus.
O Cardeal Joseph Ratzinger, quando ainda prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em entrevista de 1995, viu na leitura popular da Bíblia, importante contribuição da Teologia da Libertação latino-americana: “A exegese deu-nos muitos elementos positivos, mas também fez com que surgisse a impressão de que uma pessoa normal não é capaz de ler a Bíblia, porque tudo é tão complicado. Temos de voltar a aprender que a Bíblia diz alguma coisa a cada um e que é oferecida precisamente aos simples. Nesse caso, dou razão a um movimento que surgiu no seio da teologia da libertação que fala da interpretación popular. De acordo com essa interpretação, o povo é o verdadeiro proprietário da Bíblia e, por isso, o seu verdadeiro intérprete. Não precisam conhecer todas as nuances críticas; compreendem o essencial. A teologia, com os seus grandes conhecimentos, não se tornará supérflua, até se tornará mais necessária no diálogo mundial das culturas. Mas não pode obscurecer a suprema simplicidade da fé que nos põe simplesmente diante de Deus, e diante de um Deus que se tornou próximo de mim ao fazer-se Homem”[23].
A EMERGÊNCIA DE UMA TEOLOGIA LATINO-AMERICANA
As opções pastorais da Igreja latino-americana foram acompanhadas por uma reflexão bíblica e teológica que foi ganhando contornos próprios na sua forma de acompanhar os movimentos populares e a pastoral, na escolha de seus temas prioritários, no seu método e na sua insistência de que toda reflexão deve desembocar numa prática transformadora. Medellín já fala de uma prática pastoral libertadora que mude a realidade que oprime os pobres e lesa sua dignidade de filhos e filhas de Deus. Acrescenta que a educação é um direito de todos e que deve ser uma educação libertadora. Em 1972, Gustavo Gutierrez sistematizará os contornos desta reflexão, lançando com seu livro seminal “Teologia da Libertação”[24].
Esse caminhar e essa reflexão teológica da Igreja latino-americana serão partilhados no Sínodo da Evangelização de 1973. Ganham ali foros de universalidade. A Evangelii Nuntiandi acolheu as principais propostas de Medellín e da reflexão teológica latino-americana, transformando-as em contribuições para o conjunto da Igreja, notadamente em sua ênfase na libertação e no laço entre evangelização e promoção humana, entre desenvolvimento e libertação:
“A Igreja repetiram-no os bispos, tem o dever de anunciar a libertação de milhões de seres humanos, sendo muitos destes seus filhos espirituais; o dever de ajudar uma tal libertação nos seus começos, de dar testemunho em favor dela e de envidar esforços para que ela chegue a ser total. Isso não é alheio à evangelização” (EN 30).
“Entre evangelização e promoção humana – desenvolvimento e libertação – existem de fato laços profundos: laços de ordem antropológica, dado que o homem que há de ser evangelizado não é um ser abstrato, mas sim um ser condicionado pelo conjunto dos problemas sociais e econômicos; laços de ordem teológica, porque não se pode nunca dissociar o plano da Criação do plano da Redenção, um e outro a abrangerem as situações bem concretas da injustiça que há de ser combatida e da justiça a ser restaurada; laços daquela ordem eminentemente evangélica, qual é a ordem da caridade: como se poderia realmente proclamar o mandamento novo sem promover na justiça e na paz o verdadeiro e o autêntico progresso do homem?” (EN 31).
A acolhida calorosa das intuições de Medellín na EN transformou-se dez anos depois numa série de suspeitas e advertências a respeito da pastoral e da teologia da Igreja Latino-americanas na “Instrução sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação” da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé (Libertatis Nuntius:06-08-1984). A firme reação da Conferência Episcopal do Brasil acerca da visão unilateral e marcadamente negativa da Instrução que lançava uma nuvem de suspeita sobre a própria Igreja e seu episcopado; o desconforto no Peru com as pressões para que a Igreja local censurasse o teólogo Gustavo Gutierrez e o inconformismo no Brasil, com o processo e o silêncio obsequioso impostos ao teólogo Leonardo Boff, desembocaram num segundo documento que resgatava os aspectos positivos da caminhada eclesial e da reflexão teológica latino-americana: a “Instrução sobre a Liberdade cristã e a libertação” (Libertatis conscientia:22-03-1986). Levou também à convocação em Roma de uma inusitada mesa de diálogo entre o Papa acompanhado de seus auxiliares mais diretos e a presidência da CNBB, os presidentes dos seus Regionais e os cardeais brasileiros, de 13 e 15 de março de 1986.
Depois do encontro, o Papa escreveu aos bispos do Brasil dizendo: […] Estamos convencidos, nós e os senhores, de que a teologia da libertação é não só oportuna, mas útil e necessária (grifo nosso). Ela deve constituir uma nova etapa – em estreita conexão com as anteriores – daquela reflexão teológica iniciada com a Tradição apostólica e continuada com os grandes Padres e Doutores, com o Magistério ordinário e extraordinário e, na época mais recente, com o rico patrimônio da Doutrina Social da Igreja, expressa em documentos que vão da Rerum Novarum à Laborem Exercens”[25].
O Papa confiou ainda ao Episcopado brasileiro a tarefa de acompanhar o desenvolvimento da teologia da libertação: “Tal papel, se cumprido, será certamente um serviço que a Igreja pode prestar ao País e ao quase-Continente latino-americano, como também a muitas outras regiões do mundo, onde os mesmos desafios se apresentam com análoga gravidade. Para cumprir esse papel é insubstituível a ação sábia e corajosa dos pastores, isto é, dos Senhores. Deus os ajude para que aquela correta e necessária teologia da libertação se desenvolva no Brasil e na América Latina, de modo homogêneo e não heterogêneo com relação à teologia de todos os tempos, em plena fidelidade à doutrina da Igreja, atenta a um amor preferencial e não excludente nem exclusivo para com os pobres”[26].
A crise acerca da herança de Medellín e cujos contornos mais visíveis foram as duas Instruções sobre a Teologia da Libertação e a Carta do Papa ao Episcopado brasileiro resultaram num reconhecimento mais amplo e universal das questões ali levantadas e das respostas eclesiais, pastorais e teológicas ali encaminhadas[27].
Deve-se reconhecer, entretanto, que a libertação em Medellín estava mais vinculada aos aspectos econômicos, políticos e sociais da realidade. Só mais tarde outras dimensões como as discriminações de caráter cultural, de gênero, de raça e de cor, de orientação sexual, ou os desafios que emergem do meio ambiente ganharam maior atenção na reflexão teológica em chave libertadora. Hoje as teologias ecológicas[28] e eco-feministas[29], a teologia índia[30], a teologia negra[31], a teologia da inculturação[32] e toda uma espiritualidade libertadora[33] representam desdobramentos importantes no campo da reflexão que se reconhece herdeira da teologia que nasce de Medellín.
Na Argentina do Papa Bergoglio, a Teologia da Libertação ganhou com Lúcio Gera e com seu amigo jesuíta, Juan Carlos Scannone[34], contornos mais próximos da dimensão cultural e de uma atenção à pastoral e religiosidade populares, sem negar as raízes econômicas, sociais e políticas da pobreza e do necessário empenho por sua superação.
O que se espera do Papa Francisco é que consagre o direito de cidadania das teologias latino-americanas, que nasceram sob o signo da libertação, mas também das teologias que floresceram na África, sob o impulso da descolonização e da inculturação do evangelho; das teologias da Ásia atentas às grandes religiões do continente, à sua contribuição salvífica e ao necessário diálogo do cristianismo com as mesmas. Que a Igreja se torne uma grande sinfonia em que se acolhem as diversidades todas, no compromisso com os pobres e no seguimento de Jesus pobre e libertador.
[1] RIBEIRO, Darcy, As Américas e a civilização – processo de formação e causas do desenvolvimento cultural desigual dos povos americanos. São Paulo: Companhia das Letras, 2007 (1970 1ª. ed.).
[2] Juan Bautista Alberdi (1810-1884), político liberal, diplomata e escritor argentino, foi um dos principais ideólogos de uma Argentina que para ser “moderna” devia tornar-se branca e europeia. Domingo Faustino Sarmiento Albarracin (1811-1888), educador, político, escritor, diplomata, foi presidente da Argentina (1868-1874), quando incentivou a imigração europeia. É autor do clássico, Facundo, o civilización y barbárie en las pampas argentinas.
[3] Ao final da Conferência de Aparecida, no dia 28/05/2007, escrevia no seu Diário Victor Manuel Fernández, argentino, um dos presbíteros convidados, e que trabalhou lado a lado com Bergoglio na Comissão de redação do documento de Aparecida: “Quizá los brasileros, después de la Conferencia, profundizarán el tema de los afrodescendientes, que a nosotros nos dice poco (grifo nosso), y los mexicanos se detendrán más em los migrantes. Este tema a nosotros también nos dice poco (grifo nosso), si olvidamos la cantidad de bolivianos y paraguayos que hay en nuestro país, aunque no los veamos, y si nos recordamos que muchos jóvenes se van a vivir en Europa”. MANUEL FERNÁNDEZ, Victor, Aparecida – Guía para leer el documento y crónica diaria. Buenos Aires: San Pablo, 2007, p. 149.
[4] Ibidem, p. 119.
[5] Mons. Carlos Aguiar Retes (México), Cardeal Claúdio Hummes (Brasil), Cardeal Oscar Rodriguez Maradiaga (Honduras), Mons. Ricardo Ezati (Chile), Mons. Julio Cabrera Ovalle (Guatemala), Mons. Ricardo Tobón Restrepo (Colômbia).
[6] Acerca da escolha do nome Francisco, eis o relato do Papa aos jornalistas que cobriram sua eleição : “Alcuni non sapevano perché il vescovo di Roma ha voluto chiamarsi Francesco. Alcuni pensavano a Francesco Saverio, a Francesco di Sales, anche a Francesdo d’Assisi. Io vi racconterò la storia. Nell’elezione, io avevo accanto a me l’arcivescovo emerito di São Paulo e anche prefetto emerito della Congregazione per il Clero, il card. Claudio Hummes: un grande amico, un grande amico! Quando la cosa diveniva un po’ periculosa, lui mi confortava. E quando i voti soni saliti a due terzim viene l’applauso consueto, perchè è stato eletto il papa. E lui mi abbraciò, mi bacciò e mi disse: “Non dimenticarti dei poveri!”! E quella parola è entrata qui: i poveri, i poveri. Poi, subito, in relazione ai poveri ho pensato a Francesco d’Assisi. Poi, ho pensato alle guerre, mentre lo scrutinio prosseguiva fino a tutti i voti. E Francesco è l’uomo della pace. E così, è venuto il nome, nel mio cuore: Francesco d’Assisi. È per me l’uomo della povertà, l’uomo della pace, l ‘uomo che custodice il creato, in questo momento anche noi abbiamo con il creato una relazione non tanto buona, no? È l’uomo che ci dà questo spirito di pace, l’uomo povero… Ah, come vorrei una Chiesa povera e per i poveri!”. Francesco, Una lettura in prospettiva – Discorso ai rappresentanti dei media. IL REGNO – Documenti 7/2013, p. 196.
[7] Os oito nomes escolhidos para a Comissão, representando os cinco continentes foram: como coordenador o Cardeal Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa, Honduras, e presidente da Caritas Internacional; o Cardeal Giuseppe Bertello, presidente da Pontifícia Comissão para o Estado da Cidade do Vaticano; Cardeal Francisco Javier Errázuriz Ossa, arcebispo emérito de Santiago, Chile, e ex-presidente do CELAM; Cardeal Oswald Gracias, arcebispo de Mumbai, India; Cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique e Freising, Alemanha; Cardeal Laurent Monsengwo Pasinya, arcebispo de Kinshasa, na República Democrática do Congo; Cardeal Sean Patrick O’Malley, arcebispo de Boston, nos Estados Unidos e Cardeal George Pell, arcebispo de Sydney, na Austrália. O Bispo Marcello Semeraro de Albano, na Itália será o secretário do grupo.
[8] A apresentação do livro do Cardeal de Buenos Aires e do Rabino, na sua edição brasileira, comenta as reflexões ali recolhidas: “São exemplares na procura de entendimento pelo diálogo e no respeito sincero pelas diferenças. Ao longo dos anos, em conversas de coração aberto que não evitaram os assuntos mais difíceis – e que estão documentadas neste livro ímpar -, os dois líderes compartilham a fé na capacidade de suas religiões em fazer homens melhores. São diálogos entre dois homens simples e eruditos, estudiosos do catolicismo e do judaísmo, que acreditam que as igrejas precisam ‘sujar os pés’ para ajudar quem precisa de ajuda. O papa Francisco, cardeal Jorge Mario Bergoglio, e o rabino Abraham Skorka, reitor do Seminário Rabínico Latino-americano, por coincidência dois químicos de formação, encontravam-se na sede do Episcopado e na comunidade judaica Benei Tikva, na Argentina”. BERGOGLIO, Jorge e SKORKA, Abraham, Sobre o céu e a terra. São Paulo: Editora Paralela, 2013.
[9] MANUEL, o.cit. p. 123.
[10] Cfr. MANUEL, o.cit, pp. 30-41.
[11] Seguindo a máxima do direito romano, partus sequitur ventrem, na América, todos os nascidos de mulheres escravas, ainda que de pais livres, eram legalmente escravos e escravas para sempre.
[12] A 30 de janeiro de 1980, escrevia no seu diário o bispo Pedro Casaldáliga de São Félix do Araguaia no Mato Grosso, Brasil:
Día 30
Ha muerto, ha sido asesinado por codiciosos de la tierra indígena, el cacique Angelo, kaigang, de Mangueirinha, en el Paraná.
¡Un nuevo Sepé Tiaraju, Angelo Kretã!
Su muerte me ha afectado como la muerte de un hermano.
Su sangre no puede haber sido derramada en vano para la causa indígena. Crece el número de nuestros mártires.
En rebelde fidelidad: Diario de PEDRO CASALDALIGA – 1977/1983. Barcelona: Desclée de Brouwer, p. 18.
No dia 25 de março de 1980, é novamente golpeado pelo martírio, agora de um irmão bispo, que Casaldaliga não hesita de chamar de “santo”, como fazia a Igreja primitiva com seus mártires e como o fez o povo pobre de El Salvador, desde o dia mesmo de seu assassinato:
Día 25
Ayer murió, matado, Monseñor Oscar Romero, el buen pastor de El Salvador. Mientras celebraba la eucaristía. Su sangre se ha mezclado para siempre con la sangre gloriosa de Jesús y con la sangre, todavía profanada, de tantos salvadoreños, de tantos latinoamericanos.
Romero, flor de una paz que parece imposible en esa Centroamérica sufrida.
La impresión que se tiene, sin posible duda, es que lo ha matado el Imperio. Su muerte es una muerte a sueldo, a divisa, a dólar. Era demasiado poderosa y libre su voz y había que apagarla. El lo sabía y estaba preparado para este sacrificio.
Ha sido en la víspera de la Anunciación. El ángel del Señor se ha anticipado para anunciar, con esta muerte, la llegada de un tiempo de vida para El Salvador, para América Central, para todo el Continente.
San Romero de América, pastor y mártir nuestro. Clara lección para todos los pastores…
No es posible que el Dios de los pobres no recoja esta oblación. Ibidem, p. 19.
[13] Medellin 14, 4-11: DP 1134-1165; SD 178-171.
[14] Cf. Medellín 15
[15] Devido às muitas modificações que, em instâncias do CELAM e de Roma, foram introduzidas posteriormente no texto aprovado pelos bispos ao final da Conferência, alterando de maneira substancial algumas passagens, citamos a versão deste parágrafo no seu original aprovado pela Assembleia no dia 31 de maio de 2007.
[16] A reportagem de John L. Allen Jr., publicada no sítio do National Catholic Reporter (22-04-2013), foi traduzida por Moisés Sbardelotto e colocada no site do IHU, a 23-04-2013.
[17] Jaime de Nevares, bispo de Neuquén, Jorge Novak de Quilmes e Miguel Hesayne de Viedma.
[18] Córdoba, 18 de julho de 1923 – La Rioja, 4 de agosto de 1976.
[19] Em carta ao Cardeal Confalonieri, presidente da CAL (Pontifícia Comissão para a América Latina), Mons. Manoel Larrain, bispo de Talca, no Chile e presidente do CELAM, transmitia o conteúdo da resolução aprovada, ao iniciar-se a IV sessão do Concílio, no dia 23 de setembro de 1965: “[…] los delegados del CELAM autorizaron la presidencia, que de acuerdo con la CAL, busque la manera de hacer de esta iniciativa (Congresso Eucarístico de Bogotá, em 1968), la ocasión de realizar una labor práctica, concreta, efectiva y de conjunto entre el Episcopado latinoamericano, en aquellas materias que se consideren más útiles y urgentes para el desarrollo de apostolado del continente”.[19]
[20] Paulo VI, “Nel X anniversario del C.E.L.A.M., Esortazione Pastorale per il Lavoro Apostolico nell’America Latina”, in Insegnamenti di Paolo VI, III/1965, Tip. Poliglotta Vaticana, 1966, 661
[21] Introdução às Conclusões – Presença da Igreja na atual transformação da América Latina, parágrafo 3, in CELAM, Conclusões de Medellín. Petrópolis, Vozes, 1969, p. 41
[22] Post Synodal Apostolic Exhortation Ecclesia in Africa of the Holy Father John Paul II to the Bishops, Priests and Deacons, Men and Women Religious and All the Lay Faithful on the Church in Africa and Its Evangelizing Mission Towards the Year 2000. Paulines Publication Africa. 1995.
[23] RATZINZER, Cardeal Joseph, O Sal da Terra: O cristianismo e a Igreja Católica no Limiar do Terceiro Milênio. Um diálogo com Peter Seewald. Rio de Janeiro: Imago, 1997, p. 210-211.
[24] Cfr. Gustavo Gutierrez, in TAMAYO, Juan José, La Teología de la Liberación en el nuevo escenario político y religioso. Valencia: Tirant lo Blanch, 2011. 2ª. ed., pp.394-413.
[25] João Paulo II, Mensagem do Santo Padre ao Episcopado do Brasil. Roma, 9 de abril de 1986. São Paulo: Loyola, 1986, p. 6.
[26] Ibidem, p. 7.
[27] Para se divisar as vicissitudes da caminhada eclesial e teológica latino-americanas, na sua tentativa de se repensar o conjunto da teologia, à luz de uma práxis e reflexão libertadoras, cfr. BEOZZO, José Oscar, Colección Teología y Liberación, in AMERINDIA, Construyendo puentes entre teologias y culturas – Memoria de um itinerário colectivo. Montevideo: Amerindia; Bogotá: San Pablo, 2011, pp. 177-188.
[28] Leonardo Boff, com seu livro Ecologia: grito da Terra, grito dos Pobres. São Paulo: Sextante, 2003, abriu um filão extremamente fecundo e atual da teologia da libertação que abraça a terra e todo o cosmos. Por articular ecologia, justiça social e espiritualidade neste livro, Boff foi agraciado em 2001 em Estocolmo, na Suécia, com o prêmio Nobel Alternativo da Paz.
[29] Cfr. TAMEZ, Elsa, El papel de ASETT en la Teologia feminista, in AMERINDIA, Construyendo puentes… o. cit. 115-123.
[30] Cfr. LOPEZ HERNANDEZ, Eleazar, La Teología índia en la matriz latinoamericana, in AMERINDIA, o. cit., pp. 125-132.
[31] Cfr. SILVA, Sílvia Regina de Lima, Teología Afrolatinoamericana y Caribeña, in AMERINDIA, o. cit., pp. 133-139.
[32] Sobre Paulo Suess e a inculturação, cfr. TAMAYO, o.cit., pp.515-523.
[33] CASALDÁLIGA, Pedro, VIGIL, José Maria, Espiritualidade da Libertação. Coleção Teologia e Libertação. Série III/9. Petrópolis: Vozes, 1993.
[34] Sobre Scannone, cfr. TAMAYO, o.cit., pp. 481-489.
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