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III CONGRESSO LATINO-AMERICANO JACQUES MARITAIN


Aconteceu entre os dias 6 e 8 de outubro de 2016 em Monte alegre, o III Congresso Latino Americano Jacques Maritain, no qual buscou-se analisar a obra do pensador humanista francês Jacques Maritain (1882-1973), o qual colaborou decisivamente para pensar e aprofundar, dentre outros temas, a democracia moderna, o debate em torno da cidadania e da ética. Suas ideias, fundamentadas no princípio da dignidade da pessoa humana, base do seu humanismo integral, foram as verdadeiras bases da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), promulgada pela ONU. Sua obra influenciou a criação de institutos, centros e grupos de reflexão ao redor do mundo.

Leia abaixo o documento final do Congresso.


Para mais informações, consulte o site oficial do evento neste link:


Preâmbulo

OS INSTITUTOS JACQUES MARITAIN da Argentina, Brasil e Chile, além do Instituto Juan Pablo Terra do Uruguai, nesse III Congresso Latino-Americano realizado em São Paulo, Brasil, depois de Encontros anteriores no Chile e Uruguai, precedidos de Colóquios Argentinos-Chilenos, querem registrar o impulso dado, por este Congresso, à continuidade de nossos Encontros e Congressos.

Nesse III Congresso de trabalho conjunto, com muita reflexão acadêmica, foram abordados com os Institutos Maritain e Institutos amigos, temas de relevância em nosso continente e países, como:

  • Renovação do Pensamento Social Cristão

  • A Economia no Século XXI

  • Governabilidade Democrática e Participação Social

  • O Papel da Universidade no Contexto Atual

  • Humanismo Integral

  • A Encíclica “Laudato Si” sobre o Cuidado da Casa Comum

  • Os desafios da Integração Latino-Americana

  • O Legado de Franco Montoro

Cada tema apresentado, desde a atualização do pensamento de Maritain, proporcionou o reencontro com a Alma de cada País, e da visão prospectiva até o futuro a partir da fecundidade dos valores essenciais que sustentam nossa identidade como Continente e Humanistas Cristãos.


D E C L A R A M :

1. JACQUES MARITAIN, sob a inspiração de sua fé de cristão convertido e convencido da dignidade plena da pessoa humana, atuou sobre a realidade de seu tempo para transforma-la. Assim, com seu humanismo teocêntrico e comprometido com a liberdade e a unidade, defendeu uma ordem filosófica, econômica e política de influência cristã. Seu pensamento deu origem a vários Institutos, que realizaram em São Paulo, dias 06, 07 e 08 de outubro de 2.016, o III Congresso Latino-Americano.

2. Da responsabilidade pessoal e coletiva

Como pessoas livres, somos responsáveis por nossas escolhas valorativas, tanto no plano pessoal, como no plano coletivo. Dizia Franco Montoro, citando o Padre Charbonaux, que a história não está feita, está se fazendo. As pessoas, por suas escolhas, no seu agir, constroem suas biografias; as comunidades e povos, suas histórias. Ambas cheias de sentido valioso, negativo ou positivo. Além das obras culturais objetivadas (obras de arte, ou técnicas), as pessoas deixam sua marca nas relações com a própria consciência, com o irmão, com a natureza e com o próprio Deus.

3. Dos inaceitáveis determinismos

As pessoas não são simples produtos de seus instintos, ou os povos de determinismos históricos, como nos querem fazer acreditar. Falaciosamente, um certo sentido religioso, próprio da filosofia materialista, nascida do racionalismo, negando o sentido transcendente da história, nos vende Mamon[1], tão vigente. Esse determinismo é o responsável pela alma das ideologias de direita ou de esquerda, ambas populistas, que vêm assolando os povos de nossa América Latina. Essa abstração falaciosa seduz pessoas e povos e até intelectuais, com uma falsa crença, prometendo paraíso aos nossos povos. Não estão excluídos dessa realidade maquiavélica, o Brasil, a Argentina, o Chile e o Uruguai, além dos demais, como sabemos.

Nós, que temos o compromisso com o humanismo integral, na liberdade, se nos impõe o dever de desenvolver todo ser humano, e todos os seres humanos, como nos ensinou Jacques Maritain.

4. Da abordagem filosófica da nossa realidade

Há necessidade imperiosa de eliminarmos essa falsa religiosidade ideológica de determinados projetos políticos, que não resistem a indispensável análise teológica e filosófica. Maritain, rompe com a visão determinista. A filosofia nos dará a indispensável centralização no ser humano integral, e na sua integração com toda a criação, sempre a serviço desse ser humano integral, como nos ensina o Papa Francisco, na Encíclica Laudato Si. O humanismo integral nos impõe um verdadeiro compromisso com a dignidade plena da pessoa humana, apesar de tudo, e de forma incondicional. Um bom critério da verdade é o agir. O humanista tem o dever de consciência, de chamar à responsabilidade, os segmentos sadios da sociedade.

5. Do humanismo integral e cristão de Maritain

Colocando Deus no coração do ser humano, a Palavra de Deus revelada, na força do Espírito, nos abre para os diferentes “Degraus do Saber”. Distinguindo e unindo ciência, filosofia, teologia e até mesmo o saber dos místicos, Maritain desempenha um papel indispensável na abordagem verdadeiramente integral de todas as “dimensões humanas”.

6. Da abordagem econômica

A América Latina tem necessidade de se desenvolver no plano material, ou econômico. Porém, sempre cabe a PERGUNTA: Desenvolvimento para quem? Evidentemente, não deverá ter como finalidade maior apenas o objetivo do lucro, ou o enriquecimento das nações, das empresas etc. Como as pessoas não podem ser instrumentos para outros quaisquer fins, supostamente mais nobres, a medida deste desenvolvimento deverá ser aferida, com a indagação para se saber, se está condizente com o pleno desenvolvimento das pessoas, ou não.

Dizia Franco Montoro; “ninguém é ficha ou número, somos pessoas humanas, na sua realidade física, cultural, espiritual e sobre tudo social”. É o humanismo integral na sua dimensão econômica.

7. Da abordagem política

Antes de mais nada, há necessidade de se separar o agir político do agir partidário. Isto, porque o agir partidário, ou ideológico, nem sempre tem compromisso com a res publica, ou com os valores republicanos, ou do bem comum. Novamente, é a história dos populismos de direita, de esquerda, patrocinadas por criminosa corrupção, geradora de pobreza.

É evidente que o ideal democrático se impõe, porem democracia não basta. A democracia tem que ter qualificação. Deverá ter compromisso com a liberdade, sem liberalismo; com o social sem ser totalitária; ou seja, constituir um instrumental político a serviço da liberdade e da dignidade plena das pessoas, e não como simples meio de se ascender ao poder, para nele permanecer.

8. Da Conclusão

EM RESUMO, não há outra escolha, que não por uma política humanista, frente a proposta de uma política maquiavélica. Há que estarmos alertas, evitando-se a qualquer alienação. Aqui cabe a recomendação de Franco Montoro:

Não ao punho cerrado do ódio. Não aos braços cruzados da indiferença. Mas, dos braços abertos da solidariedade, da fraternidade às pessoas, sem qualquer discriminação.

Citando o Apóstolo São Paulo e ancorado em Jacques Maritain e Alceu Amoroso Lima, Franco Montoro proclamou a inspiração de sua vida política, “Não há alguém que sofra, que eu não sofra junto”.

Estes são os valores que devem integrar esse belo povo latino-americano, herdeiro das melhores tradições humanistas da história.

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[1] Mamon é um termo, derivado da Bíblia, usado para descrever riqueza material ou cobiça, na maioria das vezes, mas nem sempre, personificado como uma divindade.

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