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Jacques Maritain e o papel do leigo católico na sociedade contemporânea

Jacques Maritain e o papel do leigo católico na sociedade contemporânea

13 jun 2019

Jacques Maritain foi um dos grandes pensadores do século XX. Ele realizou reflexões, tendo por base o pensamento de Santo Tomás de Aquino, em áreas como a Metafísica, a Arte, a Educação e os problemas sociais. Ele construiu uma sólida crítica aos regimes totalitários do século passado (o nazifascismo e o socialismo) e à vida precária que multidões de trabalhadores levavam no sistema capitalista. Maritain é um pensador da ética, do respeito à dignidade da pessoa humana, do cuidado com os grupos humanos mais frágeis e necessitados.

O respeito à dignidade da pessoa humana emerge, de forma mais forte, quando Maritain participou, em 1948, dos trabalhos que culminaram na promulgação, pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Trata-se de um documento fundamental em prol da liberdade, de assegurar direitos sociais básicos (água, comida, moradia etc.) e de proteger a dignidade da pessoa humana.

Um campo em que Maritain também atuou de forma consistente foi na Igreja. Ele foi um dos leigos católicos mais relevantes, dentro e fora dela.

Dentre suas várias contribuições à Igreja na sociedade contemporânea, Maritain desenvolveu uma proposta de como deve ser e se comportar o leigo e o laicato católico no atual modelo de sociedade.

Para ele, a sociedade contemporânea, marcada por rupturas traumáticas, pela experiência da democracia e de regimes políticos autoritários, não pode mais estar carregada com o peso das disputas entre o poder religioso e o poder político. Por isso, a Igreja, de forma consciente, deve abdicar de administrar Estados e nações. Na modernidade, a Igreja e os cristãos precisam reencontrar-se com o Evangelho, com a experiência de fé narrada, por exemplo, nos Atos dos Apóstolos. Por isso, em vez de haver um poder político de cunho religioso e cristão, é necessário que a Igreja seja humilde, voltada para as necessidades de todos os grupos sociais (ricos, pobres, classe média etc.). Para Maritain, a Igreja não é um sindicato e muito menos uma organização política. No entanto, devido à sua origem divina, ela tem a missão de estar perto de todos os segmentos sociais. A Igreja não é uma ONG, todavia precisa, junto com o Evangelho, levar paz e esperança aos pobres, por exemplo, aos imigrantes, aos indivíduos que estão desesperados e buscam o suicídio e muito mais.

Nesse contexto, emerge, para Maritain, o papel do leigo e do laicato católico na sociedade contemporânea. Para ele, o leigo católico não pode ter a tentação de substituir o sacerdote. A função do leigo é distinta da missão sacerdotal. Pelo contrário, orientado pelo Evangelho e obediente ao Magistério, o leigo católico deve exercer suas funções, como sal do mundo, nas diversas estruturas da sociedade. É necessário que o leigo leve a esperança evangélica e o trabalho humanitário da Igreja aos diversos espaços que compõem a sociedade, como hospitais, o Judiciário, a política, a universidade e as empresas privadas. O leigo católico deve ser luz em seu local de trabalho, em seu ambiente social. Ele deve estar inserido e participar da associação de moradores, dos grupos de empresários, dos grupos de intelectuais e artistas. Orientado e mergulhado dentro da Igreja, o leigo católico deve se tornar político, juiz de direito, professor universitário, artista e intelectual.

Ivanaldo Santos, doutor em filosofia e professor do Departamento de Filosofia do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERN.